terça-feira, 18 de outubro de 2011

Justiça decide mudança de nome

 Imagem da capa do jornal Diário de Pernambuco de 18 de outubro ed 2011. Foto de Júlio Jacobina.

Justiça decide mudança de nome

Foto da matéria. Fotografia de Júlio Jacobina.

Universitário Alexandre de Oliveira quer passar a se chamar Alexandre L'Omi L'Odò por conta do candomblé

"Essa é uma forma de mostrar ao povo brasileiro que o candomblé é tão legítimo quanto qualquer outra religião"
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Alexandre L'Omi L'Odò, universitário

Por Marcionila Teixeira, do Diario de Pernambuco
marcionilateixeira.pe@dabr.com.br

Alexandre ainda era um adolescente de 14 anos quando começou a ser chamado no bairro onde morava, em Peixinhos, Olinda, de Alexandre L’Omi L’Odò. O nome, em língua Yorubá, significa “das águas do rio” e, dentro do candomblé, faz menção ao orixá Oxum. Há oito meses, Alexandre, agora com 31 anos, decidiu que era hora de assumir oficialmente o nome pelo qual tornou-se conhecido. Hoje, no começo da tarde, volta à 1ª Vara de Família e Registro Civil de Olinda, acompanhado de uma advogada, na tentativa de garantir esse direito. Esse seria o primeiro caso em Pernambuco em que alguém pede o acréscimo de um nome ao original alegando questões religiosas.

A única preocupação de Alexandre, que é estudante de História na Universidade Católica de Pernambuco e coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho, é com os prazos. Depois de conseguir cerca de 15 certidões cartoriais solicitadas pela Justiça comprovando, entre outras coisas, que não tem antecedentes criminais em Olinda, Recife, Paulista e Jaboatão, Alexandre teme não conseguir mudar o nome tão cedo. “Muitas das certidões vencem com dois e três meses depois de emitidas e a Justiça informou que a agenda de pauta só abrirá a partir de janeiro do ano que vem, quando muitos dos documentos estarão vencidos”, lamentou o universitário.

Com a mudança de nome, Alexandre Alberto Santos de Oliveira passaria a ser chamado de Alexandre L’Omi L’Odo Alberto dos Santos. O Oliveira, que vem do pai do universitário, sairia, pois, segundo ele, o Alberto já contempla esse lado da família. “Trata-se de uma decisão simples, segundo eu soube, e por isso vamos tentar falar com a juíza hoje sobre o assunto”, completou.

Alexandre conta que desde criança se identificou com a Jurema, religião de matriz indígena do Nordeste do Brasil e que se relaciona com o candomblé e com a umbanda nos espaços de terreiro. Adulto, começou a investigar a história da própria família e descobriu a ligação que possuía com a religião. “Essa é uma forma de mostrar para o povo que o candomblé é tão legítimo quanto qualquer outra religião e que os iniciados na religião devem assumir a sua ancestralidade”, disse.

Alexandre tem um blog (alexandrelomilodo.blogspot.com) onde divulga informações sobre a religião.“Todos me conhecem assim. Não é justo herdar um nome e viver sem legitimá-lo oficialmente”, destacou.

Direito Garantido

A Lei dos Registros Públicos permite que a pessoa pode somar ao prenome o apelido ao qual tem atrelada a sua imagem pública, como é o caso de Alexandre L’Omi L’Odò. O desembargador Jones Figueirêdo, especialista direito de família, explicou que, independentemente da questão religiosa, esse tipo de acréscimo pode ser feito ao nome original. “O ex-presidente Luiz Inácio, acrescentou Lula ao nome, assim como a senadora Marta Suplicy manteve o nome do ex-marido, pois é assim que é conhecida publicamente”, explicou. O desembargador acrescentou que no caso de retificação de nome, o processo é o mesmo, porém a pessoa precisa comprovar que trata-se de uma denominação que causa vexame, vergonha.

Para Alexandre, a mudança de nome vai significar mudança de vida também. Na casa onde vive com a mãe, apenas ele segue a Jurema, porém sempre foi respeitado por sua escolha. As marcas da religião estão por todos os lados. Na vestimenta, nos acessórios que usa e nos objetos distribuídos pela casa, entre eles um quadro representando Oxum pendurado em uma das paredes da sala.

“As pessoas costumam desrespeitar a religião e zombar, mas meu nome foi dado a partir de um acúmulo de circunstâncias dentro da religião”, explicou Alexandre. Como cultuador da Jurema, ele é chamado de juremeiro e, dentro do culto, é considerado um egbomi, ou seja, um irmão mais velho, assim como um sacerdote. Caso consiga ganhar o direito tão sonhado na justiça, o nome do universitário será pura poesia. Omi significa água na língua yorùá, enquanto Odò é o mesmo que rio. Já o L’ é como uma fusão desses elementos, algo como um verbo.   

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Republico aqui matéria do jornal Diário de Pernambuco de 18 de outubro de 2011, Caderno Vida Urbana C3. Essa matéria tem o teor de minhas pressões para que o tema não se ridicularizasse, como é de praxe de muitos jornalistas quando tratam esse tipo de tema. A jornalista Marcionila Teixiera foi muito respeitosa e responsável em ter feito esse trabalho experiente e rico em detalhes.  Fica aqui minha vontade de tornar pública essa minha luta, que tem como pano de fundo a abertura de um prescendente para que todo povo de terreiro possa se afirmar com seus nomes de matrizes africanas e indígenas e de barracão. Com isso, honramos nossos ancestrais e nossa história. Vamos em frente e à luta! Salve minha mãe Oxum e salvea fumaça da Jurema!

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

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