sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Malunguinho tem sua história e prática religiosa registrada pela primeira vez em livro

Imagens do Reis Malunguinho (mestre, exú/trunqueiro, caboclo, reis e mestre (feito pela escultora Lígia Costa). foto de Monique Silva.

Malunguinho tem sua história e prática religiosa registrada pela primeira vez em livro

Janeiro de 2023 iniciou com boas notícias para o avanço da compreensão da Jurema no cenário intelectual e consequentemente para o povo de terreiro. O lançamento do livro “Malunguinho – pressupostos juremológicos para sua compreensão na Jurema Sagrada” foi uma contribuição acertada do juremeiro, historiador e mestre em ciências da religião Alexandre L’Omi L’Odò, que reuniu nesse livro/ensaio, parte de sua pesquisa de mais de 20 anos sobre o Reis Malunguinho, seu guia espiritual e personagem da história por liberdade do povo negro de Pernambuco.

Financiado com recursos próprios, o livro é uma edição da Casa das Matas do Reis Malunguinho e do Quilombo Cultural Malunguinho, lançado oficialmente na Festa de Reis, em 08 de Janeiro de 2023, em celebração aos 194 anos da morte do grande Reis Malunguinho, o primeiro e mais importante líder da história do Quilombo do Catucá.

Livro ainda em suporte primário. Foto de Monique Silva.

O trabalho que foi muito bem estruturado tem em seu conselho editorial o Dr. em antropologia Marcus Barreto (USP) e o mestre em educação Henrique Falcão (UFRPE/FUNDAJ), ambos pesquisadores no campo da Jurema que contribuíram na correção e direcionamento de alguns tópicos do texto.

Esse trabalho é um convite para conhecer Malunguinho. Entrar em suas veredas e mistérios, conhecer sua história e prática ritual, mergulhar nos seus saberes e mais profundos dados científicos que contribuem para sua ampliada compreensão. O autor, que vem escrevendo e publicando artigos sobre Malunguinho em congressos nacionais de história entre outros âmbitos acadêmicos, abriu mão de parcela significativa de seus estudos para dar ao povo de terreiro a oportunidade de qualificar seus saberes históricos étnicos culturais sobre essa fundamental divindade da Jurema.

Preparação dos trabalhos... Fumaçada. Na imagens, estatuetas do Reis Malunguinho. Foto de Monique Silva.

É uma obra inédita. Um texto necessário para o avanço da religião. A partir do método da juremologia, L’Omi, oportuniza todas, todos e todes à estudar com fácil leitura aspectos necessários para o amadurecimento como discípulo e conhecedores da cultura e religião. É um texto aberto para todes interessades.

Distribuído em baixa escala, a obra que ainda está em suporte simples (impressão encadernada), aguarda patrocínio para realizar uma publicação à altura do conteúdo altamente qualificado do texto. Afinal, publicar no Brasil ainda é um desafio para escritores. Contudo, a compreensão do historiador é que conhecimento não deve estar guardado, mas sim, compartilhado, de acordo como manda o Reis Malunguinho, que instrui a partir de sua fumaça sagrada que a “sua história já foi calada demais para se manter trancada”...

O livro ainda não está à venda, aguardando o melhor momento para sua disponibilização pública. Seu acesso pode ser concedido na biblioteca do terreiro Casa das Matas do Reis Malunguinho com agendamento para visitação desse espaço educativo afro indígena.

Juremeira Valéria de Chiquinho do Maranhão e seu esposo recebendo o livro. foto de Monique Silva.

Artista pástico Lourenço Gouveia (@xilogeek) recebendo com alegria o livro. Foto de Monique Silva.

Dona Zezé, antiga membro dos terreiros, mulher de fé e filha de Malunguinho, recebendo muito agradecida a obra. Foto de Monique Silva.

Greyce Pires, advogada desde Portugal, lendo as primeiras páginas. Foto de Monique Silva.

Ekeji Aline Brito de Oyá, recebendo o esperado livro. foto de Monique Silva.

Para quem teve a honra de ganhar a primeira edição, fica o gosto de quero mais, quando a obra for lançada em suporte adequado e distribuída nacionalmente, com suas ampliações necessárias, teremos à disposição uma peça que falta na construção dos saberes tradicionais e populares de terreiro no país.


Segue algumas iamgens da Festa de Reis:

Abertura da Jurema. Foto de Monique Silva.

Reis Malunuginho Exu/Trunqueiro. Foto de Monique Silva.

Firmação do Reis. Foto de Monique Silva.

Mestra Têca de Oyá triunfando na gira. Foto de Monique Silva.

Obé Iná e Fabrício de Iyemojá firmando. Foto de Monique Silva.

Reis Malunuginho dançando seu tradiconal coco com suas afilhadas. Alegria estampada em todas. Foto de Monique Silva.


Presença ilustre do histpriador João Monteiro, membro fundador do Quilombo Culrual Malunguinho. Foto de Monique Silva.

Saambada de Reis. Dia de muita alegria em nosso terreiro. Foto de Monique Silva.

Sustenta o maracá. Foto de Monique Silva.

Afilhado Henrique Falcão tocando pandeiro pro velho Reis Malunuginho. Foto de Monique Silva.

Muita fé e amor ao Reis. Foto de Monique Silva.

Que se abram os portões da Jurema. Foto de Monique Silva.

 Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Malunguinho ganha samba enredo e desfile na G.R.E.S.V Malandros no Rio de Janeiro

Calunga Gigante do Reis Malunuginho no XVIII Kipupa. Única escultura gigante que retrata o que teria sido Malunuginho na primeira metade do século XIX. Foto de Kayo na Real. Acervo do kipupa Malunuginho.

Malunguinho ganha samba enredo e desfile na G.R.E.S.V Malandros no Rio de Janeiro

Ocupando a cada ano mais espaço nos meios da cultura, pesquisa e reconhecimento histórico, Malunguinho, herói negro da luta por liberdade em Pernambuco, e também divindade do panteão da Jurema Sagrada, tem imortalizada sua memória em um samba enredo da Escola de Samba Virtual Malandros, do Rio de Janeiro, que emplaca o tema: Sobô Nirê Mafá – salve a coroa de Reis Malunguinho.

Através do contato feito pelos enredistas Marlon Saue e Daniele Cabral, membros da Escola, que solicitou informações sobre Malunguinho com fins na construção de um perfil histórico para colaborar na criação tanto do samba enredo como das alegorias virtuais, que o pesquisador Alexandre L’Omi L’Odò, sacerdote juremeiro e cientista das religiões, ofereceu um conjunto de direcionamentos para possibilitar a melhor construção possível deste processo criativo. E assim foi feito, tendo ficado o resultado final muito fiel aos dados científicos e da tradição oral oferecidos.

As escolas de samba virtuais são um fenômeno surgido após as primeiras manifestações de internet ocorridas no Brasil desde final da década de 1990. Influenciados pelas coberturas reais do carnaval por veículos de internet, pessoas compartilharam debates, seminários, processos criativos etc. dando origem ao Carnaval Virtual, ou Escolas de Samba virtuais, que desde os anos 2000 deram viabilidade a um jogo no qual cada participante, ou grupo, deveriam gerenciar uma escola de samba, de forma remota, dando origem a essa manifestação cibercultural que se fundamenta em traduzir elementos dos desfiles reais em linguagem gráfica e na interatividade dos ciberespaços de forma contínua em comunidades virtuais, que tem como objetivo principal realizar campeonatos anuais com premiações e concessão de honrarias para os vencedores.

Com o avanço das tecnologias, esse tipo de atividade tem ganhado força e a cada ano mais adeptos que constroem as escolas de samba virtuais e que torcem, patrocinam as pesquisas, investem seu potencial criativo para dar o melhor na busca da boa avaliação de seus trabalhos. E com certeza, esse processo virtual, tem revelado importantes carnavalescos, compositores, artistas virtuais, etc. afinal, o mundo virtual está a cada dia mais presente no cotidiano do planeta, interagindo em quase tudo que fazemos hoje.

E sim, Malunguinho, divindade e herói nacional, foi lembrado por esse tão inusitado contexto cibercultural, se imortalizando em um samba enredo altamente qualificado, sendo possível ouvi-lo nesse link do Spotfy: https://open.spotify.com/intl-pt/track/10ykHw6nQPRCCHFGwoJxRL

Abaixo, segue a letra completa, que soa como uma aula de história para quem ainda não conhece Malunguinho:


Enredo: Sobô Nirê Mafá – salve a coroa de Reis Malunguinho

Interprete: Josué Barcus

Compositor: Daiv Santos

 

Sobô Nirê Mafá, Sobô Nirê Mafá

Na coroa da Malandros, Malunguinho vai reinar


Reinou... João Batista no Catucá

Quilombola a guerrear

Em Pernambuco, o líder da revolução

Somos “companheiros” contra a escravidão

“Companheiros” contra a escravidão

Um dia, o herói adentrou na floresta

Na aldeia, a cura se manifesta

A magia da Jurema despertou no seu olhar

Raiz da miscigenação

Proteger é sua lei, “Malungo na mata é o rei”

“Não mexa com ele não”.


É caboclo, é Exu, é o Mestre a nos guiar

É quem guarda a porteira lá no reino de Jucá

Tem a chave da senzala que liberta a nossa gente

Tem a força pra quebrar qualquer corrente!


O som ecoa dos maracás

Embala o transe do juremeiro

Sobe a fumaça, o cheiro das ervas ao vento

É doce alento que perfuma o terreiro

Prepara a festa, o tambor ressoa

Pra exaltar o herói e a sua luta

Um ritual aberto a qualquer pessoa

A união do povo se faz Kipupa

E os malungos que lutam pelas favelas

São sentinelas em busca de esperança

No brado de cada irmão se ouve a voz de João

Contra a intolerância.


A sinopse feita por Marlon Saue e Daniele Cabral ficou um excelente material para futuras pesquisas, e por esse motivo, coloco-a aqui para que as pessoas que ainda não conhecem Malunguinho e tenham interesse em aprofundar seus conhecimentos possam ler e acrescer seus saberes. Afinal, a Jurema merece ser compreendida e Malunguinho melhor conhecido:

Justificativa:

   O enredo da GRESV MALANDROS irá exaltar a figura de Mestre João Batista, mais conhecido como o último líder Malunguinho. No Kimbundo, o termo “malungo” significa amigo, companheiro de bordo. O nome Malunguinho era dado ao líder dos malungos na revolução Pernambucana, mas depois viria a ser o nome de uma das principais falanges de entidades da Jurema Sagrada no Nordeste brasileiro.

   "Sobô Nirê, Reis Malunguinho" – Essa é sua saudação. Malunguinho é saudado como reis, no plural, por não representar apenas um, mas vários reis. Em nossa escola, saudaremos Malunguinho em suas diversas facetas. Malunguinho é guerreiro, é caboclo, é juremeiro, é exu, e é herói nacional. Sua essência vive em cada um que luta pelos direitos de sua gente, e cada novo líder também ascende como um Novo Malungo em nossa sociedade.

“Ô Malunguinho me afirme o ponto, ô Malunguinho me abra a mesa. Eu quero um ponto nessa casa, quero um ponto de defesa”.


Sinopse:

GUERREIRO

“19 Malunguinhos, catucando o passado me embrenhei pela mata. Catucá, de Beberibe a Goiana, Quilombo vivo dentro de nós. Malunguinho. Divindade Quilombola. Rei da mata!”

Lutas pernambucanas, revoltas e reviravoltas! É neste solo que nasce o Quilombo de Catucá! Recanto de resistência e acolhimento de pretos escravizados. Terra de lutas conquistadas e liberdades alcançadas. Templo da diversidade de fé e das manifestações de axé! E as mãos que lideram os sonhos desse povo são as mãos de João Batista, o Malunguinho, chefe a guerrear em favor de seu povo. Sob sua liderança, os exímios guerreiros do quilombo desenvolveram táticas contra invasores. Fronte a sobrevivência do existir, estrepes fincados!

CABOCLO

“Na mata tem um caboclo com a preaca na mão, o nome dele é Malunguinho, não mexa com ele não. Malunguinho na mata é rei”

   Um dia, em uma invasão mata adentro, Malunguinho foi ferido e escapou de ser morto ao entrar na floresta. Lá, foi resgatado pelos indígenas, cujos saberes lhe curaram a alma, sararam as feridas e extirparam mazelas. Neste período, a aldeia foi sua nova casa, e foi um tempo de grande aprendizado! Assim, a miscigenação de suas raízes soberanas pretas com a cultura indígena lhe despertou para a

ciência mística da Jurema, e Malunguinho assume a missão de proteger as matas de Catucá e de combater a intolerância que derramava sangue de seus irmãos.

EXU

“Portão de ferro, portão de ouro. Corra, corra, Malunguinho, traga a chave do tesouro”.

   Abre caminhos! Destranca estradas! Temido por senhores brancos, Malunguinho é o portador da chave mágica que quebrava grilhões e correntes e que soltava irmãos de cor dos cativeiros e senzalas. A liberdade ecoou! Trunqueiro! Exu é mensageiro! Faz o elo do povo à linha da Jurema e aos encantados da floresta. Ninguém entra ou sai nas cidades de Jucá, um dos reinos encantados da Jurema, sem a permissão de Malunguinho! Salve aquele que guarda a porteira!

JUREMEIRO

“Malunguinho tá de ronda, quem mandou foi o Jucá. Malunguinho tá de ronda, que a Jurema manda, ô que a Jurema manda”.

   Pise no chão e nos côcos! Sinta a essência da natureza! Ouça o som que ecoa dos maracás e as vibrações dos tambores. A beleza está no milagre da vida, em cada gira para saudar o segundo líder quilombola mais importante desse país. Todo mundo que cultua a Jurema sagrada também cultua Malunguinho. Ele é mestre de nossa nação, desta terra-terreiro que toma ponto de luz através das velas do seu altar. Salve Reis Malunguinho!

HERÓI

“Malunguinho é rei para mim. Malunguinho é rei!”

   União de todos pelo mesmo objetivo. Isto é Kipupa! E assim, chega o povo do terreiro para saudar o Herói. Cachimbadas, oferendas e pandeiradas na mata, em um ambiente de revelações e curas espirituais. No chão de Pernambuco, conserva-se a memória de um povo ao relembrar a luta de Malunguinho, o eterno Mestre João. Os Juremeiros entram na gira a bailar feito corpos festivos. O fogo desmiuça a erva e lança a ciência da sagrada fumaça no céu, feito prece alentada nas folhas. Eis o verdadeiro poder do escolhido pela Jurema Sagrada e da espiritualidade encantada! Vamos kipupar!

NOVOS MALUNGOS

“Dos terreiros, matéria e espírito. Juremas enraizando outros futuros. Malungo, sangue afro-pernambucano. Descendência guerrilheira. Poesia, militância, negritude. Pelos séculos a mesma luta aflorando outros negros. Malunguinho, Mestre guerreiro!”

É eterna a luta por direitos do povo preto neste país haja vista o racismo epistêmico em nossa cruel sociedade. Até quando novos malungos serão mortos? Morrem no encontro da bala perdida nas favelas e vielas, na miséria das ruas, descriminalizados e marginalizados. Todo dia um quilombo é apedrejado, vilipendiado. Até quando o preconceito irá imperar?


Que a esperança feito fumaça no braseiro

Ponto riscado em terreiro fortaleça cada malungo

No coração de cada irmão, o legado de Mestre João

Seja entoado em um brado de amor, luta e resistência!

Salve a coroa do Reis Malunguinho!

Sobô Nirê Mafá! Trunfa Riá!


AGRADECIMENTOS:

Agradecemos ao Juremeiro e Mestre em Ciências da Religião Alexandre L'Omi L'Odò, por toda consultoria e assessoramento prestado à equipe da escola durante o trabalho

de pesquisa e confecção da sinopse.


REFERÊNCIAS:

ALEXANDRE L'OMI L'ODÒ. Discussões Negras e Indígenas. Disponível em: <

https://alexandrelomilodo.blogspot.com/>. Acessado em abril de 2023.


CULTURA P.E. O portal da cultura pernambucana. Jurema Sagrada faz festa na Mata

do Catucá. Disponível em: <https://www.cultura.pe.gov.br/canal/culturapopular/jurema-sagrada-faz-festa-na-

mata-do-catuca/> Acessado em abril. 2023.


DIÁRIO DE PERNAMBUCO. A enciclopédia livre. Jurema sagrada segue firme na contra

a intolerância. Disponível em: <https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2017/09/jurema-

sagrada-segue-firme-na-luta-contra-a-intolerancia.html> Acessado em abril. 2023.


FELIPE PERES CALHEIROS. Malunguinho - Documentário para TV. YouTube, 19 de

setembro de 2015. Disponível em: https://youtu.be/SHWQ5Ou-_hg


JOÃO BATISTA; DIOGO MENDES e LUÍS OTÁVIO. Malunguinho - O Guerreiro do Catucá,

O Rei da Jurema. YouTube, 07 de abril de 2014. Disponível em:

https://youtu.be/OvQpnTpMIno.


MESTRE DE JUREMA CLÁUDIO DE OLIVEIRA. Jurema do Rio Grande do Norte.

Malunguinho, a história de um Rei Brasileiro. Disponível em:

<https://juremadoriograndedonorte.wordpress.com/malunguinho-a-historia-de-um-

rei-brasileiro/> Acessado em abril. 2023.


POETA MALUNGO. 19 Malunguinhos. Poema recitado no documentário “Malunguinho

– O guerreiro de Catucá, o Rei da Jurema”, de João Batista, Diogo Mendes e Luís

Otávio. Disponível em: https://youtu.be/OvQpnTpMIno.


TENDA DE UMBANDA LUZ DA CARIDADE. Salve o Mestre Malunguinho. Disponível em:

<https://www.tendadeumbandaluzecaridade.com.br/2013/04/salve-o-mestre-

malunguinho-por.html?m=1> Acessado em abril. 2023.


VÁRIOS ARTISTAS. CD Pontos de Jurema. Produção Prefeitura Natal/RN e Fundação

Cultural Capitania das Artes. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=Co2V5Rqv49w>


Anexos: 


Capa do Spotfy dos Sambas de enredo 2013, onde o enredo Malunguinho está disponível.

______________

Com essa publicação, queremos agradecer pela lembrança e preocupação em realizar um trabalho tão empolgante e com resultados tão lindos. O alcance desse enredo é imenso e corresponde aos objetivos do Quilombo Cultural Malunguinho, que há 20 anos vem lutando para que o reconhecimento nacional desta divindade e herói negro seja vista com a dignidade histórica que merece. Gritamos sobô nirê mafá com muito orgulho, e parabenizamos a Escola de Samba Virtual Malandros pela dedicação e total respeito às fontes. Estamos torcendo pela vitória!  

Alexandre L’Omi L’Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 16 de abril de 2023

Mestra Paulina da Rede Rasgada ganha registro escrito sobre suas toadas e memórias na Jurema Sagrada

Firmação de Paulina da Rede Rasgada. Foto de Monique Silva - @monie.ft

Mestra Paulina da Rede Rasgada ganha registro escrito sobre suas toadas e memórias na Jurema Sagrada

 Setembro de 2022 foi um mês importante para o acréscimo de materiais juremológicos sobre uma das entidades mais cultuadas e adoradas na Jurema – a Mestra Paulina.

Com proposta de ser um material introdutório e de cunho colaborativo, o livreto “Pontos da Mestra Paulina da Rede Rasgada: breve registro de sua história e toadas na Jurema Sagrada” nasceu com muita força e esmero metodológico, qualificado na pesquisa científica e com boa etnografia da tradição oral sobre essa Mestra.

Livretos impressos sobre a Mestra Paulina da Rede Rasgada. Foto de Monique Silva - @monie.ft

Esse material, que foi impresso e distribuído gratuitamente para os presentes na celebração religiosa da princesa Mestra da Casa das Matas do Reis Malunguinho, em setembro de 2022, foi o momento escolhido pelo sacerdote e acadêmico Alexandre L’Omi L’Odò para lançamento desse material escrito por ele como homenagem à sua Mestra, a própria Paulina.

Desde criança ela já o guiava. Com o passar dos tempos, foi se fortalecendo em sua corrente e há muitos anos orienta inúmeras pessoas através de sua matéria. A festa em homenagem à Paulina acontece anualmente como louvação ou como gira aberta ao público. Baseado no amor que tem a esta entidade, escreveu esse registro para fortalecer sua memória no mundo dos viventes com total aprovação dela própria.

O texto contém uma breve história da Mestra, introdução explicativa e um capítulo inteiro só registrando suas toadas ou toadas que comumente são cantadas por ela, faz-se urgente para o avanço dos estudos juremológicos, tendo em vista que quase não há história escrita sobre entidades ou divindades na Jurema. Malunguinho é uma das poucas divindades que se destacam no campo da ciência acadêmica, afinal, além de ter vasta pesquisa sobre sua história, é campo fértil para inúmeras pesquisas que estão em andamento, como o doutorado de Alexandre L’Omi e outres.

Paulina merece muita atenção no âmbito das investigações. Uma das entidades femininas mais importantes do catimbó merece amplo registro, teses e dissertações que tentem dar conta de seu imaginário e presença cotidiana nos terreiros. Até mesmo suas "deformações" culturais e religiosas feitas por parte dos “maus discípulos” merecem observação, já que seu nome é palco de grande especulação e transformação ao passar dos anos nos terreiros.

Esse livreto, que não tem a missão de ser a ultima palavra sobre a Mestra, tenta compilar a maior parte possível de seus cânticos sagrados. O autor, que compila esse material há anos, continua em busca de mais informações qualificadas para dar segmento a essa pesquisa que leva à frente com muita devoção e compromisso na desmistificação de Paulina.

Palmeira de Jardim (Areca bambu), principal altar da Mestra Paulina. Foto de Monique Silva - @monie.ft

Única (até onde sabemos) entidade que foi encantada no pé de palmeira (Areca bambu [palmeira de jardim]), colocando-se assim como uma das importantes plantas sagradas do panteão fitológico da Jurema, Paulina está “sentada (ou assentada)” no pé da Palmeira, e lá, de modo cosmológico, haveriam dois cabarés... Esses mistérios históricos, poéticos e juremológicos podem ser pensados nesse material que presenteia quem lê informações que vão fortalecer com certeza o conhecimento sobre essa maravilhosa mulher que ilumina o gongá de tantas casas.

Seus cigarros, champanhes, cervejas, cores votivas, o mel de suas palavras e sua rasgada forma de ser mulher livre, contrariando a moral e bons costumes da sociedade normativa merecem muito mais do que o autor oferta nesse material essencial para o crescimento da religião.

Dona Preta de Oxum recebendo seu exemplar. Foto de Monique Silva - @monie.ft

Monique Silva, a "fotógrafa mestra" recebendo seu exemplar. Foto de Diogo Gomes.

Mestra Têca de Oyá, uma das entrevistas para o trabalho recebendo seu livreto. Foto de Monique Silva - @monie.ft

Itaiguara, leitora assídua de conteúdos religiosos recebendo seu exemplar. Foto de Monique Silva - @monie.ft

O material aguarda publicação ampliada e não será no momento disponibilizado na internet. Contudo, quem desejar conhecer, procure o autor através do e-mail alexandrelomilodo@gmail.com para maiores informações.

O trabalho contou com correção do Ms. Henrique Falcão, e assessoria dos membros da Casa das Matas do Reis Malunguinho (@cmdoreismalunguinho).

Mestra Paulina da Rede Rasgada sempre será louvada em nossa Casa como Princesa Mestra Riá. Seu culto é muito antigo e merece todo respeito. Foto de Monique Silva - @monie.ft

"No pé da Palmeira, Paulina sentada... Mas ela é Paulina, da Rede Rasgada"! Foto de Monique Silva - @monie.ft

Salve Paulina, Mestra de luz, amor e muita força em nossas vidas. Vamos celebrar sua forma natural de ser e comemorar mais esse avanço para o povo de terreiro.

Fotos de Monique Silva (@monie.ft).

Alexandre L’Omi L’Odò

alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Dissertação de Mestrado é defendida em terreiro de Jurema com tema sobre Malunguinho e Educação

Fumaçada de abertura de caminhos. Foto de Monique Silva.

Dissertação de Mestrado é defendida em terreiro de Jurema com tema sobre Malunguinho e Educação

Etapa educativa do Kipupa Malunguinho 2022 realiza debate e defesa de dissertação de mestrado sobre educação contra colonial.

No último dia 17 de setembro, o terreiro de Jurema e Candomblé Casa das Matas do Reis Malunguinho tornou-se uma grande sala de aula internacional com presença de professoras e professores universitários da América do sul e Caribe na realização da Etapa Educativa do XVII Kipupa Malunguinho 2022, que tem realizado suas atividades internas desde o início da pandemia.

A parceria FUNDAJ e CMRM propiciou um grande debate com o tema: Malunguinho na Aula é Reis: perspectivas para uma educação contra colonial, dissertação de mestrado apresentada/“defendida” no chão de terra batida da casa do Reis Malunguinho, com produção da própria Casa, garantindo uma estrutura qualificada para a apresentação. Esse trabalho acadêmico já qualificado tem data oficial para defesa pública na UFRPE em 17 de outubro de 2022.

Mestando Henrique Falcão, cientista social e futuro mestre em educação contra colonial. Foto de Monique Silva.

A Etapa Educativa do Kipupa é um dos braços educacionais do Quilombo Cultural Malunguinho, que há 20 anos realiza atividades do gênero com grande participação do povo de terreiro e interessades, formando inúmeras pessoas no campo dos temas afro e indígenas. Nos últimos anos, essa proposta de formação contra colonial tem adentrado algumas escolas do Recife apoiada na Lei Estadual Malunguinho 13.298/2007, revogada e recolocada na lei estadual 16.241/17 e pelas demais Leis Malunguinho municipais, como 5591/2008 (de Olinda); 2.285/09 (de São Lourenço da Mata); 18.562/19 (de Recife) e a 3.164/19 (de Igarassu).

Uma das etapas educativas realizadas na mata sagrada disponíveis para conhecimento está nesse mini-documentário produzido por nós em parceria com a produtora audiovisual Angola Filmes no ano de 2018: https://www.youtube.com/watch?v=qqfAp9Y0IXY&t=47s

O terreiro se encheu de fumaça da gaita mestra, mazurca bem tocada nos bombos sagrados e muita firmação aos pés do patrono para receber com alegria esse histórico e revolucionário momento para a vida de todes participantes. Henrique Falcão, juremeiro, cientista social e mestrando do Programa de Pós Graduação em Educação, Culturas e Identidades da UFRPE em convênio da FUNDAJ, nos trouxe o resultado quase final de seu trabalho de mais de dois anos de pesquisa entorno da temática de Malunguinho, educação das relações étnico-raciais e as Leis que instituíram oficialmente a Semana Estadual da Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana (e afro indígena, no caso da lei de Recife).

Vibração para agradecer ao sagrado. Foto de Monique Silva.

Cantando para Reis Malunuginho. Foto de Monique Silva.

Henrique Falcão, que também é percussionista, tocando para Reis Malungunuho. Foto de Monique Silva.

Defumação de Jurema. Na imagem, professora argentina recebendo o axé da CMRM. Juremeira Welica no serviço de limpeza espiritual. Foto de Monique Silva.

Sua imersão científica investiga a figura de Malunguinho e sua pluralidade como ícone histórico, divino e símbolo de uma educação afro-indígena. Em seu resumo, o autor nos aponta exatamente o que traz à luz da história:

“Malunguinho, ou os Malunguinhos, foram guerreiros quilombolas do Quilombo do Catucá em Pernambuco, lutavam por liberdade do povo negro e indígena e utilizavam de guerrilhas para combater diretamente o Estado e as milícias que atacavam os seus territórios. Encantaram-se no panteão da Jurema Sagrada, mitificando o ser histórico e passando ao patamar divino de Reis, ocupando local de destaque na religiosidade, assumindo também multifaces espirituais, podendo manifestar-se como trunqueiro, caboclo e mestre. Assim, como expressão de resistência, tornou-se modelo para a formação e atuação da Lei Malunguinho, de Nº 13.298/07, que exige nos espaços educacionais uma Semana de Vivência e Prática da Cultura Afro-indígena Pernambucana, enfatizando a sua importância na formação das/dos estudantes, transmitindo saberes tradicionais, racializados e salientando a luta pela educação contra hegemônica, tomando Malunguinho como persona simbólica desta pedagogia”.

Ceclebração de abertura dos trabalhos. Foto de Monique Silva.

Os bombos sagrados do Reis Malunguinho batendo forte pra saudae esse momento histórico. Foto de Monique Silva.

Defumação dos convidades de outros países. Foto de Monique Silva.

Fala de abertura do sacerdote Alexandre L'Omi L'Odò preludiando ato histórico na Casa das Matas do Reis Malunginho. Foto de Monique Silva.

Ele faz essa conexão teórica com os debates em torno da crítica ao modelo educacional e a modernidade, colonização, colonialidade e o contra colonial, vinculando a religiosidade da Jurema e suas narrativas orais com epistemologias que contrariam o fazer educacional nos moldes unicamente eurocêntricos, perpetuando os paradigmas dominantes da modernidade.

Esse trabalho ainda é um registro amplo da trajetória do Quilombo Cultural Malunguinho na conquista e efetivação das leis que foram fruto de seu trabalho assim como a realização das Semanas de Malunguinho nas escolas, realizadas pelo QCM, pela Professora Célia Cabral e professor Rodrigo Correia. É um trabalho rico e cheio de elementos muito bem investigados por esse habilidoso acadêmico que nasce para a academia e para a luta da juremologia e da juremagogia, como ele mesmo cria e dá sentido.

A presença dos professores e professoras universitários que debateram com o mestrando e demais membros e membras do terreiro, possibilitando um momento incrível de troca de saberes, foi um dos trunfos dessa Etapa Educativa do Kipupa. Vindos de países como Argentina e Chile, deram grandes contribuições e puderam elogiar o muito bem estruturado trabalho desse jovem promissor.

Frofessora da Argentina interagindo e dando contribuição crítica ao trabalho de Henrique Falcão. foto de Monique Slva.

Professora de univeridade da América Latina elogiando o trabalho que segundo ela está muito bem estruturado e qualificado. Foto de Monique Silva. 

Professor do Chile parabenizando e contribuindo para a dissertação apresentada. Foto de Monique Silva.

Debate amplaido e contribuições da professora argentina. Foto de Monique Silva.

Professora Cibele da FUNDAJ dando sua contribuição. Foto de Monique Silva.

Os filhos e filhas da Casa das Matas se fizeram presentes com demais convidades, promovendo debates mais ricos e a noite finalizou com comida tradicional de terreiro e uma tour dos professores e professoras pelo espaço, onde foi mostrada a biblioteca do templo, seu grande acervo de material de pesquisa sobre a Jurema, o altar sagrado, o acervo de pinturas e quadros raros e demais dependências da casa.

Início dos debates após brilhante apresentação de Henrique Falcão. Foto de Monique Silva.

Luíza, filha da CMRM, professora da rede pública do Estado de Pernambuco falando da importancia da pesqusia para formação de professoras e professores. Salientou que não há acesso à este tipo de conteúdo e que seria muito útil no combate ao racismo nas escolas. Foto de Monique Silva.

Catarina Falcão, mãe do mestrando falando do orgulho de ver nascer dentro do terreiro uma pesquisa tão importante. Emocionada ao ver seu filho ascendendo na academia, lembrou de seu pai Luiz Marinho, grande intelectual e teatrólogo pernambucano. foto de Monique Silva. 

Artur Falcão, primo e irmão de santo de Henrique. Falou sobre o quanto é importante este trabalho e o quanto está aprendendo com ele. Artur, filho da CMRM, tocou com amor ao Reis para agradecer esse dia tão especial. Foto de Monique Silva.

Ricardo Nunes, pai carnal de Henrique. Falou sobre o orgulho de ver o filho elevando-se profissionalmente e do quanto a epsquisa é importante para nossa história. Foto de Monique Silva.

Fequinho, ou FK Feiticeiro, falando do quanto foi importante receber os conhecientos que nessa noite reverberaram em sua vida. Parabenizou o seu irmão de santo henrique. Fotoo de Monique Silva.

Gleice Kelly Heitor, mostrou como é importante um estudo dessa qualidade para o avanço dos debates contra coloniais. Ela, que é coordenadora do Instituto Brenand, deiou aberta a possibilidae de amliar esse debate na instituição. Foto de Monique Silva.

Joannah Flor, cantora e filha da CMRM, parabenizou seu irmão Henrique e dissertou sobre a importância de estudos deste tipo para o avanço da história do povo de terreiro, em especial do povo da Jurema. Foto de Henrique Falcão. 

Quilombo reunido. Foto de Monique Silva.

Mestrando pela UFRPE, falando da importância dos estudos de Henrique para o Povo da Jurema. Foto de Monique Silva.

A alegria e realização nos tomou e festejamos juntes esse ato raro que agora compõe nossas memórias mais valiosas. Uma dissertação de Mestrado ser apresentada e defendida em um terreiro de catimbó em si já é um ato revolucionário de múltiplos significados.

Parabéns a Henrique Falcão. Desejamos sucesso em sua defesa oficial na universidade. Você está muito preparado e merece o título de Mestre.

O padrinho Alexandre ficou muito orgulhoso de ver parte de sua tragetória e contribuição para a edicação anti colonial em Pernambuco registrada com tanta competência acadêmica e amor pelo seu filho Henrique. A Casa das Matas teve uma noite de grande triunfo. Foto de Monique Silva.

Os presentes nesse momento histórico. Foto de Moonique Silva.

Professoreas e professor das universidades do exterior e Cibele da FUNDAJ. Foto de Monique Silva.

Henrique e os convidades. Foto de Monqiur Silva.

Recebendo as congratulações. Foto de Monique Silva.

Nosso quilombo Casa das Matas do Reis Malunuginho. Alguns filhes. foto de Monique Silva.

Sobô Nirê Mafá!

Mais um importante trabalho acadêmico registrando Malunguinho na história do Brasil. Isso deve ser celebrado!!

Alexandre L’Omi L’Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!